A vegetariana
“Nunca tinha me ocorrido que minha esposa era uma pessoa especial até ela adotar o estilo de vida vegetariano”.
Assim tem início o ganhador do Man Booker International Prize 2016, A vegetariana.
Dividida em três partes narradas por vozes distintas, a primeira seção da novela é homônima ao livro e tem como narrador o marido de Yeonghye, mulher banal que, assaltada por sonhos tenebrosos envolvendo sangue, carne crua e labirintos assustadores, resolve parar de comer quaisquer produtos de origem animal.
Sua disposição não termina aí: a protagonista também joga fora toda a comida da geladeira e passa a se esquivar do esposo para fugir do cheiro de carne que, segundo ela, exalava de seus poros.
Não é um livro sobre ser ou não vegetariano, é sobre ser mulher em uma sociedade que a limita a um papel secundário, neutro.
A personagem do livro é julgada e subjulgada por todas as figuras masculinas da narrativa (cunhado, marido e o pai).
No momento que a personagem principal decide parar de comer carne, ou seja, de fazer o que a sociedade/família espera dela, eis que surge o conflito, não pelo ato em si, mas pela expectativa frustrada dos personagens masculinos não terem mais controle sobre o corpo, sobre a direção da vida e até mesmo do pensamento da mulher.
É uma narrativa que nos leva a Kafka, a transformação da mulher em árvore, o sonho se transformando em realidade e a ação dessa metamorfose entrando em conflito com a realidade.
Segundo Vinicius Jatobá ao Estadão, A Vegetariana “é uma narrativa bélica travada no coração de uma família atingida pelo mistério de uma interioridade inacessível”.
É essa mudança que traduz essa inacessibilidade, é o silêncio da personagem que constrange, irrita e perturba os membros da família.
Eu penso que o livro nada tem a ver com a comida de fato e sim com a tentativa da personagem de se libertar dos relacionamentos tóxicos e profundamente arraigados na sociedade coreana.
Pequenas atitudes dela no início da história já despertam uma avalanche de comentários maldosos por parte do marido.
Interessante que a personagem principal não tem voz e nem compartilha seus pensamentos sobre as suas atitudes, somente a descrição dos sonhos.
Segunda parte
Dessa vez é narrado pelo cunhado que se torna obcecado pela Yeonghye por conta de uma mancha de nascença, à partir daí a autora nos mostra o abuso e a manipulação dele para consumar seu desejo, entendo que as atitudes e o modo como ele aborda uma suposta "ajuda" à Yeonghye seja considerada abuso sexual senão estupro.
Pesquisei no Google e vi que essa mancha ela some com a idade, como o da Yeonghye não sumiu isso me pareceu um tom de pedofilia por parte do cunhado.
Terceira parte
Essa parte é narrada pela irmã de Yeonghye, seu nome é Inhye e apresenta críticas ao despreparo da sociedade coreana em lidar com pessoas com distúrbios mentais.
Marcello Lopes




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